terça-feira, junho 24, 2008

QUANDO A EMENDA É PIOR DO QUE O SONETO

Quando a emenda é pior do que o soneto (Por Hipátia Cardoso marques)

Sobre o Termo de Ajustamento acertado entre o Ministério Público Federal da Bahia, a FEB e as editoras espíritas, no qual estas se comprometem a colocar notas de rodapé evitando qualquer interpretação equivocada e agressiva aos negros, ouvi de um palestrante espírita que ainda não aprendeu o suficiente para entender a nobreza que pode existir por baixo dessa cor, o seguinte comentário:

- A FEB “deu mole”! Não era para ter cedido! Na Bíblia existem preconceitos contra as mulheres e ninguém entra na justiça contra ela.

Fiquei pensando largas horas naquela observação. Na hora, tudo que me veio à cabeça, foi a seguinte pergunta: E isso é bom? Podemos justificar um erro com outro? Não sei o que leva algumas pessoas a manter um pingo de lama no seu terno novo ou uma mosca no seu prato de sopa favorita.

Sócrates, ou alguém que se fez passar por ele, em seu famoso texto, Três Crivos, no qual um fofoqueiro o aborda pronto para lhe contar “a última novidade”, cita que antes que ele dispare sua língua, lhe fez três necessárias e interessantes perguntas: É bom? É útil? É verdadeiro? Como obteve resposta negativa para as três, recusou-se a escutá-lo.

A situação se encaixa como uma luva neste caso. Podemos fazer as mesmas perguntas a qualquer defensor da manutenção de notas ofensivas, não somente aos negros, mas a qualquer pessoa, estejam elas na codificação ou em outra obra qualquer, salvo quando o contexto o exigir.

Aquele que segue referenciais errados não pode jamais chegar a um objetivo certo. Quem tenta justificar um erro apontando o erro de outro, assemelha-se à criança imatura cuja lógica é: se ele pode, eu também posso!

Voltemos nossos olhos para o guia e modelo, Jesus. Não nos esqueçamos de que ele, antes que Kardec organizasse a Doutrina, já era o referencial seguro da Humanidade. Louvemos a este pela conduta íntegra, a modéstia, o esforço, a boa vontade e por outras virtudes de um homem de bem que é. Mas tenhamos a sensatez de, primeiramente, colocar e seguir Aquele, o guia e modelo para nossas ações.

O Mestre andava pelas ruas exemplificando, curando enfermos, ensinando, amando. Acolhia pessoas comuns, cobradores de impostos, prostitutas, arrependidos, endurecidos, enfim, todos que o abordavam. E para todos tinha Ele uma palavra de conforto, um gesto favorável.

Um negro não é apenas um negro. O que é da carne é carne; o que é do Espírito é Espírito. Antes de alguém ser um homem ou uma mulher negra é um Espírito, e como tal, pode ter mais virtudes do que outro. Que o diga Gandhi, Luther King, Steve Biko e outros. Sob uma pele negra pode estar um Espírito que já foi revestido por pele branca; que pode ter estudado, aprendido e avançado muito. E este argumento é irrefutável para os espíritas, pois o conhecem muito bem.

Mas alguns encarnados, em atitude típica de quem tenta colocar remendo novo em pano gasto, dizem: na época de Kardec existia escravidão, por isso ele escreveu ou endossou aqueles argumentos. Ocorre que se existia escravidão, ele como homem lúcido, Espírito generoso e justo, era contra esse regime de servidão brutal. E isso é mais uma razão para não ter colocado ou permitido que alguém colocasse na codificação qualquer tipo de constrangimento a estes irmãos. Se o que está escrito é uma opinião pessoal e isolada de um Espírito, que se avalie o conteúdo, e caso seja inadequado ou desrespeitoso, que seja retirada do texto. Se é dele, homem que ainda não atingira o cume da perfeição, caso encarnado fosse, tenho certeza de que, por sua própria vontade e reconhecimento já o teria rejeitado.

Não é por ser Espírito que tenha de ser levado a sério em tudo quanto diga. Não é por estar encarnado e gozar de simpatia e respeito, ter reconhecida inteligência e bom senso que não possa se enganar. Este argumento também é irrecusável para os espíritas, pois o utilizam diuturnamente.

Afirmações exigem aprofundamento e contextualização.

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